6.11.2010

diário de bordo - rio verde e quirinópolis/GO

essa é a segunda vez que fazemos uma turnê pelo interior do estado. desta vez, a turnê está maior, com mais cidades e mais apresentações. é uma experiência rica no sentido do quanto entro em contato com questões diversas da minha realidade cultural, do estado afinal onde não nasci mas onde cresci e fui criado desde os 5 anos de idade.

coisas que chamam a atenção...
primeiro a carência de cultura que é generalizada. é gritante a ausência de referências, experiências com o objeto artístico. nas cidades menores então (que é o caso de rio verde e principalmente quirinópolis) isso é alarmante. daí temos duas reações diversas muito presentes: o estranhamento (até mesmo aversão) e o maravilhamento. a mais gratificante claro, é a expressão de encantamento do público, frente algo que para eles simplesmente não faziam idéia de que existia. mais uma vez voltam aqueles velhos questionamentos sobre a função da arte, seu poder de transformação, sua capacidade de despertar diferentes realidades, modificar os contextos onde se insere.... questões profundas.... de fato não tenho acreditado na arte como força de transformação social, porém a força do entusiasmo nas pessoas que ficam até o final, esperando para falar conosco, nos dizer o quanto foi importante para elas aquele instante, aquele momento de deslocamento de suas realidades é algo que no mínimo me faz refletir...

interessante pois o espetáculo que trouxemos desta vez para o interior é o "por instantes de felicidade" que questiona justamente coisas do tipo..... instantes, momentos que de tão singulares, duram pouco.... evaporam-se..... viram lembranças....
aliás, um espetáculo super bacana de dançar. super livre, solto, proporciona uma sensação de leveza em cena, tudo muito espontâneo.... mais um ponto positivo de estar numa cia com um repertório vasto e variado. diferente possibilidades de contato com o movimento e com a cena.

segunda coisa que chama muito atenção...
o lado ruim da realidade cultural do interior do estado. hoje, fizemos duas sessões especiais do espetáculo para crianças e adolescentes de escolas públicas da cidade. enquanto esperávamos o espetáculo começar as crianças já estavam na platéia e no teatro tocava música sertaneja com música ambiente. de repente, todas as crianças (máximo 7 anos de idade) começaram a cantar a música e todas conheciam inteiramente a letra da canção! não é algo contra a música sertaneja em si, mas esse episódio me fez refletir sobre o que é ser criança numa cidade como essa e crescer formando sua personalidade com referências herdadas de uma sociedade patriarcal e machista. coisas difíceis de se julgar..... conversando com uma amiga sobre isso ela me lembrou que existem muitas coisas boas para crianças que crescem no interior em relação àquelas que crescem nas cidades enlouquecidas pelo cotidiano de consumo onde também todas as referências presentes em sua formação estão deturpadas... perdas e ganhos.... como tudo na vida.

em rio verde fizemos apenas uma apresentação. aqui em quirinópolis começamos hoje e vamos até segunda. depois seguimos para jataí e mineiros.

o difícil é achar o que fazer nessa cidade minúscula..... ;) hoje arriscamos ir numa festa junina. fiquei animado pois achei que ia ter doces típicos mas nem pé de moleque tinha!!!! as quadrilhas eram com roupas verde e amarela inspiradas na copa ou com músicas de funk...... é...... nem o interior escapou.

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